Ensaio Sobre Conservadorismo e as Redes Sociais (Parte 01)
Transcrição da fala do gestor Roberto Ferreira
Agradeço a audiência dos vereadores, deputados estaduais e federais e senadores neste momento. Também quero agradecer a presença dos auxiliares e assessores de gabinetes.
Senhoras e senhores, vou tratar sobre “Conservadorismo e as Redes Sociais Digitais.”
Sei que o nosso tempo é curto e que esse assunto mereceria um aprofundamento pontual, mas vou indicar caminhos práticos para que todos vocês consigam compreender um pouco sobre este momento de exploração da bandeira conservadora no Brasil.
Apesar de não entrar no mérito histórico do conservadorismo, não há como falar sobre o tema sem citar Edmund Burke e François-René de Chateaubriand — dois homens que viveram no século XVIII e que podem servir como base para a existência do conservadorismo político moderno. No entanto, não me aprofundarei nos fatos históricos; deixo para que vocês busquem isso posteriormente.
Mesmo esse conceito social — o conservadorismo — existindo desde o século XVIII da era comum, ainda não é possível criar, no momento atual, uma definição única sobre essa tendência no Brasil. A diversidade e as condições distintas — sejam financeiras, culturais ou relacionadas aos diferentes níveis de acesso à informação — tornam impossível estabelecer um conceito único de conservadorismo em nosso país.
Se tentarmos encapsular uma ideia genérica fundamentalista, o conservadorismo seria a tentativa de preservar as instituições familiares tradicionais, as lideranças políticas — sejam republicanas, principescas ou monárquicas — e as instituições e valores religiosos cristãos. Outros conceitos importantes incluem o direito de propriedade, a hierarquia social, a estabilidade e a continuidade de modelos existentes de gestão.
Em resumo: os conservadores tradicionais são religiosos, meritocráticos, acreditam nos direitos civis e lutam pela construção de uma sociedade estável.
Cito aqui o psicólogo e psicanalista professor Luiz Hanns, que, em uma publicação intitulada “Os perfis psicológicos de quem é de direita e de quem é de esquerda”, comenta sobre um teste realizado com pessoas distintas. O teste propunha aos participantes escolher entre dois tipos de cães:
- Primeiro era um animal brincalhão, sociável, independente e bom com crianças.
- Segundo, um cão de guarda — leal à família, obediente e protetor do patrimônio.
O resultado?
Os indivíduos de esquerda optaram pelo primeiro cão, mais sociável. Já os de direita preferiram o segundo, mais hostil a estranhos e dedicado à família — o cão fiel ao grupo a que pertence.
Faço aqui um parêntese sobre uma observação feita por Platão, em A República, a respeito dos cães — algo que se encaixa bem na ideia de fidelidade.
Abre aspas para Sócrates:
“O cão, ao ver um desconhecido, fica irritado até sem motivo. Mas, ao ver uma pessoa conhecida, a saúda, mesmo que tenha sido maltratado. O cão sabe distinguir uma figura amiga de uma inimiga pelo simples fato de conhecer uma e ignorar a outra. Logo, como poderia não amar o conhecimento, se o conhecimento e a ignorância lhe permitem distinguir o amigo do estranho?”
(A República, livro II, capítulo XVI.)
Um ponto importante: ser conhecido ou reconhecido é essencial para toda pessoa pública.
Mas tornar-se conhecido não é postar selfies todos os dias nas redes sociais.
Vejo políticos eleitos que continuam se comportando como se estivessem em campanha, acreditando que selfies diárias consolidam sua imagem. No entanto, o reconhecimento facial é apenas um dos itens do branding, da fixação de imagem.
Você não cria uma relação sólida com o público apenas por aparecer todos os dias.
Como dizia Vinícius de Moraes: “Que me perdoem os feios, mas beleza é fundamental.”
Senhoras e senhores: há diferença entre celebridade e pessoa pública.
O eleitor de direita que habita o conservadorismo atual não busca apenas um rosto bonito e maquiado. Falaremos mais sobre isso no segundo encontro, que tratará de postagens e imagem pública.
Ligado ao teste dos cães, realizou-se também um exame de neuroimagem da área cerebral chamada amígdala, responsável pela percepção do perigo, do medo e do instinto de sobrevivência. Essa região também está relacionada à manifestação emocional e ao aprendizado de conteúdos emocionalmente relevantes.
O que se descobriu?
Os eleitores de direita possuem a amígdala mais desenvolvida que os de esquerda.
Deixo então uma pergunta: sua foto é um conteúdo emocionalmente relevante ou de aprendizado?
Talvez não. E talvez o conservador não esteja interessado na sua imagem.
Vale lembrar: uma amígdala mais desenvolvida não tem relação com inteligência, mas com disposição social.
Eleitores de esquerda tendem a ser mais relaxados e propensos a mudanças radicais, enquanto os de direita temem a mudança e a experimentação — sentimentos que preferem evitar.
Outro teste interessante foi o teste do nojo, em que pessoas foram expostas a cheiros e imagens repugnantes. As reações de repulsa foram significativamente maiores entre os eleitores de direita do que entre os de esquerda.
Para quem quiser se aprofundar em neuropolítica, recomendo o livro de Pedro Bermejo, “Quiero Tu Voto”.
Também estou preparando um estudo sobre o tema — aguardem.
Outra pesquisa, do psicólogo social Jonathan Haidt, baseada em psicologia evolutiva, animal e social, identificou que todas as pessoas — de direita ou de esquerda — tomam decisões baseadas em cinco fundamentos morais:
- Compaixão
- Justiça
- Identidade
- Respeito às hierarquias
- Virtude e pureza
Mesmo em diferentes países e culturas, os resultados foram consistentes.
Focando no eleitor de direita, a pesquisa revelou que:
- A compaixão é voltada principalmente ao grupo ao qual pertence;
- A justiça é associada à meritocracia — cada um deve receber conforme sua contribuição;
- A identidade é fundamental: tolera-se a existência de outros grupos, mas evita-se aderir às suas pautas.
Pautas como racismo, feminismo e socialização dos direitos não são vistas como bandeiras prioritárias pelos conservadores, que preferem causas amplas e universais, sem divisões por classe, raça ou crença.
Isso não significa intolerância, e sim a defesa do princípio de que todos têm direito a viver como quiserem — mas dentro dos valores tradicionais.
Outra característica marcante é a valorização da organização, autoridade e ordem.
O conservador teme a anarquia social. Basta observar as manifestações de rua: as cores verde, amarela e azul predominam, simbolizando harmonia e respeito aos símbolos nacionais.
Já os conceitos de virtude e pureza (virtus cordis et sinceritate) são centrais: acredita-se que a ausência desses valores leva à decadência moral e ao caos social.
No entanto, o macroconservadorismo atual — falo de 2020 — ainda não assimilou completamente esses princípios éticos.
Conclusão parcial:
Mesmo que o eleitor de direita atual habite um ambiente macro conservador, seu voto ainda é influenciado por fatores externos à ideologia, o que demonstra que o conservadorismo genuíno está mais presente em micros ambientes.
Essa diferença explica por que a essência do conservadorismo tradicional ainda não domina a massa brasileira.
Os grupos que realmente preservam os valores clássicos são pequenos e pouco representativos no cenário político.
Um exemplo claro disso é quando a “maioria silenciosa” conserva no poder gestores ficha-suja, justificando com o argumento da “segurança”.
Esse comportamento nasce do medo da mudança — um traço conservador —, mas ignora princípios morais fundamentais, como o “não roubarás”.
Assim, mantêm no poder quem rouba, mas “faz”.
Essa distorção não ocorre nos microambientes, onde há fidelidade moral e religiosa.
Com o tempo, essas pequenas frentes podem corrigir o desvio do macro conservadorismo.
Há também regiões em que o discurso conservador foi aliciado pelo trabalhismo e pela dependência de benefícios públicos, o que enfraquece o princípio meritocrático.
Falar sobre redução de cargos públicos ou ajuste na máquina estatal nessas áreas pode gerar resistência — e, portanto, exige cautela nas redes sociais e campanhas digitais.
O que existe hoje, na prática, é uma centro-direita maquiada de conservadorismo.
Ainda assim, esse movimento pavimenta o caminho para um conservadorismo real no Brasil.
Mesmo sem raízes religiosas profundas, a globalização das ideias poderá transformá-lo em um conjunto sólido de valores modernos e coerentes.
Vale lembrar: cada região expressa o conservadorismo de forma distinta.
As divergências comportamentais geram demandas diferentes, mas uma característica é comum: a polarização.
O eterno duelo entre direita e esquerda, liberdade e sistema, verde e amarelo contra o vermelho — reflexo do pensamento religioso tradicional: Deus contra o Diabo, bem contra o mal.
Portanto, antes de adotar um discurso conservador — seja em campanhas online ou off-line —, entenda o perfil da sua região.
Planeje a comunicação com cuidado, pois o ambiente digital amplifica paradoxos.
Estude as proporções entre conservadorismo, liberalismo e populismo; dosagens erradas podem gerar o efeito oposto ao desejado.
O mesmo eleitorado que antes sustentou o socialismo no poder hoje se diz conservador.
E não se surpreendam se essa mesma “maioria silenciosa” um dia retornar ao socialismo — já vimos esse ciclo se repetir em vários países da América Latina.
No macroambiente, mitos viram demônios e desconhecidos se tornam príncipes.
Encerramento
Este foi o primeiro ensaio sobre O Conservadorismo e as Redes Sociais.
Farei mais dois:
- O segundo tratará de como se posicionar diante de públicos conservadores distintos.
- O terceiro abordará a formação de público no macroambiente conservador.
E, quanto ao seu marketing — seja eleitoral ou político —, tenham cuidado com o efeito Dunning-Kruger, fenômeno em que indivíduos com pouco conhecimento acreditam saber mais do que os especialistas, tomando decisões equivocadas.
Tenho visto gestores de marketing eleitoral cuja incompetência limita a capacidade de reconhecer os próprios erros — e essa prepotência os leva ao fracasso.
Tratem o marketing com seriedade.
Confiem em profissionais capacitados e conhecedores do assunto.
Eu sou Roberto Falcão, gestor em redes de comunicação on/off e estratégias digitais.
Agradeço a paciência de todos.








