O Brasil vive hoje o maior nível de inadimplência já registrado desde o início das séries históricas em 2010. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), mais de 70 milhões de brasileiros estão negativados, e 43% das famílias afirmam não ter condições de pagar dívidas já vencidas. É a fotografia de um país onde o trabalhador está produzindo não para melhorar a vida, mas para tentar evitar o colapso financeiro pessoal.
O vilão principal é conhecido: o crédito caro.
Cartão de crédito, cheque especial e crédito pessoal — todos com juros elevados — pressionam famílias que já sofrem com a queda do poder de compra e a inflação acumulada sobre alimentos, serviços e energia.
Inadimplência entre empresas também recorde
O quadro não é diferente no mundo empresarial.
Segundo a Serasa Experian, mais de 6,5 milhões de empresas estão negativadas, sendo 80% delas pequenas e médias. São negócios que dependem diretamente da circulação de renda — restaurantes, lojas, salões, transporte local, comércio de bairro.
Quando a família deixa de consumir, a empresa deixa de vender.
Quando a empresa perde faturamento, ela demite ou fecha.
É o chamado ciclo de contração econômica:
menos renda → menos consumo → menos emprego → mais inadimplência.
E é esse ciclo que hoje travou o crescimento do país.
Onde a inadimplência é maior
A inadimplência não está distribuída de forma uniforme pelo país.
Ela tem mapas e tem rosto.
- Norte e Centro-Oeste registram as maiores altas desde 2017, segundo estudo da FGV.
- O Sudeste concentra o maior número absoluto de negativados — porque tem mais população e mais empresas.
- A região Sul é a única que mostrou alguma recuperação no período.
O que isso revela?
As regiões mais vulneráveis são as que sentem primeiro e mais forte a instabilidade econômica nacional.
Perfil do devedor brasileiro
Segundo SPC Brasil, Serasa e CNC:
- A maior parte dos devedores está entre 30 e 60 anos — pessoas em idade produtiva.
- Há equilíbrio por gênero: 51% mulheres, 49% homens.
- O maior número de dívidas está ligado a:
- cartão de crédito,
- contas atrasadas de serviços (luz, água, telefone),
- financiamentos pequenos e compras parceladas.
Ou seja, não é consumo de luxo. É custo de vida básico.
Em conclusão, a inadimplência no Brasil hoje não é apenas um problema financeiro, mas um sintoma social profundo. Ela revela renda insuficiente, crédito abusivo, fragilidade das empresas e um país onde a população trabalha para sobreviver, não para viver. A inadimplência funciona como o termômetro da economia real — e o que esse termômetro aponta é claro: o Brasil está no limite.









