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Flop 30: a conferência que prometeu rios e entregou valetas

A COP30 chegou a Belém cercada de expectativas grandiosas. Seria a conferência que recolocaria o Brasil no centro da diplomacia climática mundial, reforçaria a imagem de guardião da Amazônia e traria ao país o protagonismo que se imaginava perdido. Havia uma narrativa pronta: “O Brasil voltou ao jogo”. Porém, a realidade não acompanhou o roteiro.

A conferência reuniu muitas delegações, ONGs e representantes de instituições acadêmicas e socioambientais, é verdade. Mas faltaram os atores que realmente mudam a balança de decisões globais: os chefes de Estado das grandes potências. Ao contrário de eventos anteriores, como a COP26 em Glasgow em 2021, que reuniu cerca de 120 líderes mundiais, e a COP28 em Dubai em 2023, que ultrapassou a marca de 150 chefes de governo, a COP30 em Belém teve uma presença muito mais tímida no alto escalão político internacional. A participação foi majoritariamente técnica, administrativa e representativa, mas não decisória.

Esse esvaziamento simbólico já teria sido suficiente para reduzir o impacto do evento. Mas o problema central foi outro: não houve acordos estruturantes. A COP27, realizada no Egito, deixou como legado histórico o Fundo de Perdas e Danos, destinado a apoiar países mais afetados por eventos climáticos extremos. A COP28 colocou o petróleo como protagonista do debate, tensionando a agenda energética mundial. Já a COP30 saiu sem uma marca equivalente. Houve discursos intensos sobre a proteção de florestas, sobre metas climáticas de longo prazo e sobre bioeconomia, mas faltou o compromisso concreto: números obrigatórios, prazos vinculantes e aporte financeiro real.

Enquanto isso, o cenário político interno desviava a atenção do país. A opinião pública estava concentrada na luta contra o narcoterrorismo no Rio de Janeiro, nas disputas partidárias que se intensificam ano a ano, nas decisões polêmicas do Judiciário, em comissões parlamentares de inquérito que se sucedem sem conclusão clara e nas polarizações ideológicas que se tornaram rotina. Nesse ambiente de ruído constante, a COP30 simplesmente não encontrou espaço para ocupar o imaginário nacional.

O evento tornou-se importante no protocolo, mas desprovido de presença simbólica. Foi grande na estrutura, mas pequeno na capacidade de mobilizar o país. O Brasil, que buscava se afirmar como articulador global da pauta climática, não alcançou a projeção que esperava. A tão anunciada liderança ambiental não se consolidou. A Amazônia, celebrada nos discursos como protagonista do futuro do planeta, acabou servindo mais como cenografia do que como motor real da agenda climática internacional.

No fim, o que se viu foi uma conferência que entregou menos do que prometeu. Restaram imagens bem produzidas, slogans cuidadosamente ensaiados e um esforço de comunicação intenso, mas desconectado da substância. Para muitos, ficou a sensação de um governo que aposta mais no espetáculo do que nas entregas, de um país que fala alto no palco, mas não finaliza o roteiro.

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