Não é novidade que parte dos meios de comunicação servem a interesses políticos. A história está cheia de exemplos de governos que transformaram a imprensa em instrumento de controle e adestramento da opinião pública. Na Alemanha nazista, Joseph Goebbels estruturou uma máquina de propaganda tão rígida que o cidadão comum acreditava estar escolhendo por vontade própria aquilo que, na verdade, já havia sido escolhido pelo estado. Quando o gestor captura a narrativa, ele captura a consciência.
No Brasil, a dinâmica não está caminhando diferente, só é mais disfarçada. Mesmo com a troca de comando político, o padrão de uso da publicidade oficial permaneceu praticamente o mesmo. Entre o governo Bolsonaro e o atual governo Lula, o gasto público com comunicação segue em níveis equivalentes. Enquanto o governo de centro-direita de Jair Bolsonaro manteve uma média anual entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2,2 bilhões, o governo Lulopetista opera entre R$ 2,0 bilhões e R$ 2,3 bilhões ao ano, porém com um ritmo mais constante e crescente.
Ou seja: o volume é parecido, mas Lula pulveriza a verba, distribuindo recursos para rádios, portais regionais, veículos locais e influenciadores, o que amplia a capacidade de moldar a narrativa política no território. Só neste ano, o governo já gastou R$ 876 milhões em publicidade. Isso representa um aumento de 28% em relação ao ano passado e 62% acima de dois anos atrás.
Atualmente, a sustentação do poder já não se apoia apenas na força do voto democrático ou no campo das ideias. Ela passa pela construção de narrativas e pela engenharia permanente de imagem das figuras políticas. Em muitos casos, essas narrativas podem estar vinculadas ao pagamento por proteção editorial, prática conhecida no jargão jornalístico como “jabá”, ou conteúdo pago disfarçado de notícia. Trata-se de um método antiético, mas que, ao que tudo indica, segue operando de forma silenciosa e contínua nos bastidores da imprensa e da política nacional.
Embora casos explícitos de “pagamento por proteção editorial” sejam difíceis de provar e raramente se tornem públicos, as investigações focam na falta de transparência e nos critérios de distribuição das verbas.
De 2023 a 2025, Ministério Público e TCU abriram investigações sobre contratos de publicidade em governos estaduais e prefeituras. Em 2023, o MP-SP apurou o aumento de 25% nos contratos da Prefeitura de São Paulo. Em 2025, o STJ autorizou processo contra o ex-governador João Doria por possível uso irregular de verba de comunicação. No mesmo ano, a Alepe instalou uma CPI para investigar suspeitas semelhantes no governo de Pernambuco.
Paralelamente, surgiram debates sobre direcionamento ideológico da verba federal. Relatórios jornalísticos indicaram que uma parte maior dos recursos estaria sendo destinada a mídias e influenciadores alinhados à esquerda, o que reacendeu a discussão sobre o uso da publicidade estatal para moldar narrativa política, não para informar o cidadão.
Com a quebradeira generalizada das empresas e a situação econômica instável, grande parte da mídia passou a depender financeiramente de contratos públicos. Quando a sobrevivência de um veículo está atrelada ao dinheiro estatal, o que se forma não é imprensa: é a terceirização da reputação alheia. A informação deixa de ser um direito e se transforma em mercadoria emocional.
Nesse cenário, políticas públicas deixam de ser discutidas. Problemas urbanos somem do noticiário. Crises são substituídas por festas, inaugurações e sorrisos fabricados para redes sociais. A cidade pode estar afundada em abandono, mas a mídia capturada pelos contratos oficiais dirá que está tudo bem, porque o anúncio da prefeitura paga a conta do mês.
A verdade, seja no micro ou no macro ambiente, passa a ser escondida, sendo emocionalmente negociada num verdadeiro “limpa sujeira”.
A pergunta que fica é simples:
Se a verdade é negociada, onde sobra espaço para a nossa democracia?








