Por Roberto Falcão
Certo dia, recebi esta imagem do Fábio Palacio, um dos principais e mais conceituados políticos da região do ABC, em meu feed do Instagram, acompanhada da seguinte pergunta:
“Sabe o que me deixa com esse sorriso?”
Fábio adora campanhas eleitorais com abraços, beijos e sorrisos. Às vezes, porém, negligencia o lado triste da cidade. São Caetano, por conta da falta de investimentos em moradia popular, dos altos valores de aluguel e da escassez de oportunidades de emprego para os jovens — falo de bons empregos —, empurra parte da população de baixa renda para cortiços e “casinhas”, mantendo muitos dependentes das ajudas sociais da prefeitura. Problemas como esses impedem o crescimento da cidade e a tornam inviável para o crescimento humano de cada indivíduo.
Ato 01 – O apoio
Todos nós sabemos que o atual prefeito Tite Campanella (PL) foi eleito com o apoio do ex-prefeito Auricchio Júnior (PSD). E não apenas ele, boa parte da bancada de vereadores eleita em 2024 surfou na onda da popularidade de Auricchio. Duas estratégias garantiram o sucesso do grupo político do ex-prefeito, ao qual chamarei de GA (Grupo do Auricchio): Transferência de Identidade e Transferência de Credibilidade. Em uma cidade conservadora como São Caetano do Sul, a população escolheu a continuidade do governo de José Auricchio.
Ato 02 – O racha e o poder da cadeira elétrica
Mas, para surpresa de muitos, assim que Tite se sentou na cobiçada cadeira do Paço Municipal, algo mudou. O que parecia uma aliança eterna virou um divórcio político repentino. Será que a cadeira de prefeito tem mesmo uma energia capaz de transformar padrinhos em desafetos? Parece que sim!
E, para deixar o mar ainda mais agitado (com a devida dose de ironia), parte dos vereadores do GA também abandonou o barco auricchiano. Após acordos com ex-adversários de Auricchio, articularam um motim para empurrar o ex-comandante à prancha, sob a acusação de deixar a cidade afundada em dívidas — uma “herança maldita” guardada no fundo do baú.
Mas a tripulação do barco, que sempre usufruiu do caríssimo buffet e tinha acesso à fiscalização do baú, não sabia dos buracos no casco da embarcação?
Voltando ao Fábio sorrindo…
Afinal, o que faz Palácio sorrir?
Seria a sua suposta influência no governo Tite Campanella?
Fábio costuma sumir do radar após as eleições, mantendo uma reclusão pessoal, mesmo quando a cidade enfrenta ruas esburacadas, filas, caos na saúde e desânimo no comércio. Mas, desta vez, parece que o silêncio foi quebrado.
Segundo apuração do Via Política News nas publicações do vereador Getúlio Filho (União Brasil), pessoas ligadas a Palacio ocupam cargos importantes próximos ao prefeito Tite Campanella. Estaríamos vendo o retorno de Palacio como articulador de bastidores, preparando o terreno para 2028?
Ato final – Todos sorrindo, menos José Auricchio
Com o cenário atual, marcado pelo afastamento político entre Tite e Auricchio e pela deserção de vereadores do antigo GA, é possível que estejamos assistindo ao nascimento de um novo bloco de poder em São Caetano. Um grupo que atualmente detém a máquina pública nas mãos e que parece disposto a lançar o “Capitão Auricchio” ao mar do esquecimento.
Uma nova oposição comandada por Tite Campanella e Fábio Palácio? Será verdade?
Mesmo que a suposta dupla ainda venha a enfrentar obstáculos por conta dos processos de rejeição das contas da Câmara no período em que Tite Campanella era presidente (leia as matérias anteriores), isso não inviabiliza novas composições. Aliás, há um movimento silencioso ganhando forma: a crescente visibilidade da primeira-dama, que passa a aparecer com mais frequência nas redes sociais, em agendas públicas, eventos institucionais e em conteúdos de posicionamento pessoal. É um claro processo de preparo e teste de aceitação, um treinamento político, por assim dizer.
Pode ser que Palácio não esteja diretamente à frente dessas articulações e que tudo isso não passe de devaneios deste náufrago colunista que vos escreve. Porém, uma coisa é inegável: o grupo dele está surfando bem a maré do racha na turma de Auricchio.
E esse enredo ainda promete ondas mais altas. Especialmente quando vier a “faxina” nos cargos comissionados, aqueles com remanescentes do grupo de Auricchio que ainda ocupam segundo e terceiro escalões. Segundo uma fonte dentro do próprio governo, esse processo deve começar já no ano que vem.
Talvez o desfecho dessa saga marítima seja o Capitão Auricchio encalhando na inelegibilidade e transformando-se, via CPI da Dívida, num pirata errante tentando recuperar seu navio perdido. Enquanto isso, uma nova dupla pode assumir definitivamente o leme da cidade.
Sigamos observando o mar. As ressacas políticas, essas sim, sempre chegam.
Coisa de publicitário: Quero parabenizar a quem conseguiu fazer um grupo que nunca chegou ao poder pelo voto direto assumir influência no comando por procuração. Talvez Barroso tenha razão: “eleição não se ganha…”
E como disse um querido vereador, que é bem focado em seus objetivos: “A política que eu faço não é de Deus.” Realmente ele tem razão…“Deus não precisa maquinar o mal para ter poder, isso é coisa de demônios.“
Caro leitor, saiba disso
Aqui não há juízo de valor contra os políticos eleitos nas ondas da popularidade do Auricchio, nem vitimização ao ex-prefeito. Este é apenas um arremedo político, uma crônica “maresiada” dos bastidores sanqueanos, cheios de ressaca e ironia, porque a política local, convenhamos, sempre renderá um bom tombo.
Eu sou Roberto Falcão.
E saiba disso… eu não esqueço!








