Diversos estudos recentes indicam que sim, mulheres tendem a necessitar de mais horas de sono do que os homens. Embora a diferença média seja relativamente pequena (por volta de 10 a 20 minutos por noite), os fatores que motivam essa necessidade são diversos e envolvem biologia, hormônios, saúde mental e papéis sociais.
Por que a diferença existe
1. Flutuações hormonais e fases da vida feminina
Mulheres experimentam ciclos menstruais, gravidez, lactação, menopausa, cada etapa traz alterações hormonais que afetam o sono. Segundo especialistas, essas variações impactam tanto o início do sono quanto a sua qualidade.
Por exemplo, níveis variáveis de estrogênio e progesterona influenciam a regulação da temperatura corporal, a interrupção do sono e a duração das fases mais profundas da noite.
2. Saúde mental e distúrbios de sono
Mulheres têm maior probabilidade de sofrer de insônia, ansiedade ou depressão, condições que deterioram a qualidade do sono ou aumentam a necessidade de recuperação (sono compensatório).
Além disso, algumas pesquisas sugerem que, após a menopausa, mulheres desenvolvem com mais frequência apneia do sono ou distúrbios de movimento, o que também interfere no descanso.
3. Trabalho cerebral e exigências cotidianas
Estudos apontam que o cérebro feminino pode exigir mais “recuperação” por causa de multitarefas ou disposição para monitoramento contínuo de estímulos externos (cuidar de crianças, responsabilidades domésticas, etc.).
Em resumo: mesmo que o tempo efetivo na cama seja similar, a energia mental gasta pode implicar necessidade de mais sono para regeneração.
O que isso significa para o dia a dia
Para mulheres que mantêm jornadas duplas ou triplas trabalho, casa, cuidados familiares, essa soma de fatores pode significar:
Dificuldade maior em “recuperar” o sono na noite seguinte.
Maior vulnerabilidade aos efeitos de dormir pouco ou mal (ex.: queda de atenção, irritabilidade, risco metabólico).
Importância reforçada de cuidar da higiene do sono: rotina, ambiente escuro, evitar telas perto da hora de dormir, reduzir cafeína/alcohol.
Opinião Editorial
Reconhecer que mulheres, em média, precisam de um pouco mais de sono não é promover privilégio: é afirmar ciência e justiça biológica.
Negar ou minimizar essa necessidade reduz o problema a “preguiça” ou “mimimi”. Quando uma parte da população dorme menos do que precisaria, os reflexos são reais, produtividade menor, riscos maiores para a saúde, maior carga sobre o corpo e a mente.
Para o Brasil, onde ainda há persistente desigualdade de gênero no trabalho doméstico, nas demandas familiares e na saúde, esse tema ganha contornos sociais. Dormir não é luxo, é necessidade. Dormir bem para quem responde por múltiplos papéis exige que a sociedade reconheça: apoio familiar, jornadas equilibradas e políticas de saúde pública que incluam a diferença biológica no sono feminino.
A ciência está dizendo que “mais um pouco de sono” para as mulheres não é excesso, é compensação. E quem acredita no valor da equidade deveria apoiar isso.







