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Tragédia no Paraná acende alerta sobre eventos extremos e falhas históricas de prevenção

A tragédia que atingiu cidades do Paraná, deixando mortos, feridos e centenas de desabrigados, reacendeu o debate sobre a frequência crescente de tornados e tempestades severas no Sul do Brasil. Embora o fenômeno em si seja natural, cientistas afirmam que o risco está sendo ampliado pela combinação de clima mais quente, ocupação desordenada do solo e falta de sistemas eficientes de alerta e evacuação.

Segundo o meteorologista Francisco Eliseu Aquino, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Sul do país vem registrando um aumento da energia disponível na atmosfera. “Quando o ar fica mais quente e úmido próximo da superfície, e há ar frio em altitude, você cria uma atmosfera com muito potencial explosivo. Se houver ventos em direções diferentes nas camadas da atmosfera, o cenário para tornados se forma”, explica.

Essa condição é reforçada pelo aquecimento regional observado nas últimas décadas. O INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) aponta que a temperatura média no Sul do país subiu cerca de 1,1°C desde 1960. Parece pouco, mas isso aumenta o volume de vapor d’água no ar, tornando cada tempestade potencialmente mais intensa.

Uso do solo e biomas alterados ampliam a vulnerabilidade

Meteorologistas e geógrafos concordam em um ponto central: o fenômeno atmosférico pode até ser inevitável, mas o desastre não é.

A Mata Atlântica, que antes regulava umidade, temperatura e retenção de água, deu lugar a:

  • agricultura intensiva,
  • pastagens,
  • estradas e
  • áreas urbanas que cresceram sem planejamento.

A pesquisadora Luciana Travassos, especialista em planejamento ambiental da UFABC, explica:

“Quando a vegetação é substituída, o solo perde capacidade de infiltração. A água escoa mais rápido, os ventos ganham velocidade e não há barreiras naturais. Ou seja, o mesmo fenômeno meteorológico causa mais estrago.”

Além disso, a ocupação de áreas de vale, encostas e margens de rios aumenta a exposição da população a eventos extremos.

O problema não é prever o tornado, mas coordenar o aviso e a evacuação

O Brasil tem tecnologia para detectar tempestades severas, mas peca no que os especialistas chamam de “mediação do risco” — o processo de avisar e retirar pessoas de áreas vulneráveis a tempo.

Para o climatologista Alexandre Costa, pesquisador da UFC:

“A previsão existe. O que falta é uma cadeia de comunicação eficiente: quem envia, quem recebe, quem toca a sirene, quem orienta a população. Essa engrenagem não está montada no Brasil.”

Em alguns municípios, sirenes, protocolos de abrigo e rotas de evacuação simplesmente não existem.
Quando existem, a população não foi treinada para segui-los.

E os ventos solares ou a mudança dos polos magnéticos?

Cientistas são categóricos: não há relação entre ventos solares, deslocamento do polo magnético e formação de tornados.

  • Ventos solares afetam o campo magnético e comunicações, não o clima.
  • Tornados se formam na troposfera, muito abaixo do nível onde essas interações ocorrem.
  • O deslocamento do polo magnético é natural e contínuo, registrado há milhões de anos.

Ou seja, a tragédia tem causas terrestres, não espaciais.

A pergunta central não é “por que aconteceu”, e sim “por que continuamos despreparados”

O Sul sempre foi uma região com maior probabilidade de tempestades severas — isso faz parte do seu clima.
O que mudou foi:

  • o calor,
  • a quantidade de umidade disponível,
  • a forma como ocupamos o território,
  • e a ausência de sistemas públicos de proteção e evacuação.

Em outras palavras:
O fenômeno é da natureza. A tragédia é da gestão.

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