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Violência política de gênero: quando o ataque é contra a democracia

Violência Política de Gênero é tema de evento no Fórum de Tomazina

A cidade de Tomazina, no interior do Paraná, sediou um evento dedicado ao debate sobre Violência Política de Gênero, reunindo representantes do Judiciário e da sociedade civil no Fórum local. A iniciativa contou com a presença do presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), desembargador Sigurd Roberto Bengtsson, da magistrada Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira, da Presidência do Conselho Nacional de Justiça, e da juíza-auxiliar do Supremo Tribunal Federal, Franciele Pereira do Nascimento, reforçando a centralidade do tema dentro das instituições de justiça.

Durante o encontro, discutiram-se as formas pelas quais mulheres que atuam ou desejam atuar na política são alvo de agressões, intimidações, desqualificação pública, assédio moral e ataques digitais, práticas que visam restringir sua participação e silenciar sua presença em espaços de poder. As autoridades destacaram que a violência política de gênero não é um fenômeno isolado, mas parte de uma estrutura de desigualdade histórica que atravessa as instituições e afeta diretamente a democracia representativa.

Dados recentes mostram a dimensão do problema no Brasil. Um levantamento da Confederação Nacional de Municípios revela que mais de 60% das prefeitas e vice-prefeitas afirmam ter sofrido violência política durante campanhas ou mandato. Entre mulheres negras eleitas, o cenário é ainda mais grave: estudos apontam que 98,5% relataram ter sofrido mais de um tipo de violência política, incluindo ataques virtuais, deslegitimação institucional e boicotes de aliados. Além disso, o Observatório Nacional da Mulher na Política registrou que, embora os casos estejam crescendo e ganhando visibilidade, o país teve apenas duas condenações judiciais por violência política de gênero entre 2021 e 2023 — o que evidencia um grande abismo entre denúncia, reconhecimento e responsabilização.

O evento também incluiu a homenagem às mulheres da Cooperativa de Agricultoras do Café Matão, reconhecidas pelo protagonismo no desenvolvimento comunitário e pela atuação social em rede. O vídeo exibido, “Ciclos – Corpos, Café e Cuidado”, destacou a relação entre trabalho, território e identidade feminina, reforçando que a presença das mulheres na vida pública não se dá apenas no voto ou no cargo, mas também na sustentação cotidiana de suas comunidades.

Ao longo da programação, ressaltou-se que combater a violência política de gênero é uma tarefa estrutural, que envolve acolhimento institucional, responsabilização jurídica, educação democrática e fortalecimento da participação plural nos espaços de poder. Levar esse debate para cidades do interior significa ampliar o alcance da discussão, tornando visível uma violência que muitas vezes permanece silenciosa — especialmente nos municípios menores, onde relações pessoais e políticas se confundem.

A realização do evento em Tomazina demonstra que o enfrentamento à violência política de gênero está se interiorizando, alcançando territórios onde o silêncio e o medo costumam ser ainda maiores. O Judiciário, nesse contexto, assume papel não apenas punitivo, mas também pedagógico, reforçando que a democracia só é plena quando todas podem ocupar o espaço público em igualdade e segurança.

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