Buenos Aires / São Paulo – 27 de outubro de 2025 – Em uma eleição de meio-mandato que mostrou mais do que uma simples renovação legislativa, a coligação La Libertad Avanza (LLA), liderada pelo presidente Milei, obteve uma vitória expressiva que promete redefinir seu poder de manobra no Congresso argentino.
Contexto e resultado
As eleições legislativas nacionais aconteceram em 26 de outubro de 2025, renovando metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado.
A LLA alcançou cerca de 40 % a 41 % dos votos — por exemplo, mais de 41 % segundo a cobertura do Le Monde.
Esse desempenho coloca o partido de Milei à frente da principal coalizão de oposição, o peronismo, que ficou em torno de 31 % nas estimativas iniciais.
A vitória foi vista como uma “mão decisiva” para o governo seguir com sua agenda econômica liberal/mercado-livre.
Evolução do cenário eleitoral argentino (2017–2025)
| Ano | Tipo de eleição | Força vencedora | Resultado político | % aproximado dos votos da força vencedora |
|---|---|---|---|---|
| 2017 | Legislativas | Cambiemos (Mauricio Macri) | Avanço liberal-conservador | 41% |
| 2019 | Presidencial + Legislativas | Frente de Todos (Alberto Fernández / Cristina Kirchner) | Retorno do peronismo ao poder | 48,2% |
| 2021 | Legislativas | Peronismo (mas perdeu hegemonia) | Oposição ganhou tração | 33,5% |
| 2023 | Presidencial + Legislativas | Javier Milei (La Libertad Avanza) | Ruptura com o sistema tradicional | 55,7% |
| 2025 | Legislativas | La Libertad Avanza | Consolidação do projeto Milei no Congresso | ~41% |
Atenção: os números apresentados para 2025 são aproximados e devem ser atualizados conforme apuração oficial final.
O que isso significa
Com esse resultado, o governo de Milei passa a ter uma maior margem de influência no Congresso: mais deputados/senadores aliados facilitam a aprovação de decretos, vetos e reformas.
É uma validação eleitoral relevante da aposta de Milei em uma agenda de reformas estruturais — sobretudo em economia, privatizações, corte de gastos públicos e abertura ao capital externo.
Por outro lado, embora seja um triunfo convincente, não significa que o governo tenha agora maioria absoluta ou controle pleno do parlamento — ainda haverá necessidade de negociações e alianças.
Implicações para a política e economia
Economia: A vitória fortalece a confiança de investidores e de credibilidade internacional — por exemplo, os EUA vinham condicionando apoio financeiro à Argentina ao sucesso eleitoral de Milei.
Política interna: A oposição precisará reavaliar sua estratégia; o peronismo viu uma nova derrota significativa, o que abre espaço para fragmentação ou renovação interna.
Risco e expectativa: Quanto maior a vitória, maiores as expectativas por mudanças rápidas — o que aumenta o risco de frustrações caso as reformas demorem ou gerem efeitos colaterais indesejados.
Perguntas que ficam
Qual será o ritmo de implementação das reformas prometidas por Milei?
Até que ponto a LLA conseguirá ampliar coalizões com outros partidos para garantir governabilidade estável?
Como o peronismo e outras forças de oposição vão reagir e reorganizar-se diante deste recado eleitoral?
Caso a economia não melhore ou gere turbulências, a vitória pode rapidamente se converter em vulnerabilidade para o governo.
A vitória de Javier Milei e de La Libertad Avanza nas eleições legislativas de 2025 na Argentina não apenas reforça a agenda liberal-mercado abraçada por Milei, mas também acende um sinal de alerta sobre os riscos de polarização — tanto no âmbito interno quanto no cenário geopolítico da América do Sul.
Força do discurso liberal
Milei consolidou-se como porta-voz de uma nova ordem econômica: privatizações, abertura aos mercados internacionais, corte substancial de gastos públicos e menor intervenção estatal. Essa retórica, até então marginal, foi amplamente validada pelas urnas — algo raríssimo num país com tradição peronista forte. A aprovação de cerca de 41% dos votos — se confirmada — sinaliza que há fôlego para levar adiante reformas que, em outras circunstâncias, encontrariam forte bloqueio político.
Risco de polarização regional
Contudo, o triunfo também acentua linhas de fractura:
No plano interno, a oposição fragmentada e o enfrentamento ideológico entre “liberalismo de mercado” versus “populismo estatal” ganham contornos mais agudos — essa divisão pode comprometer a governabilidade, fomentar radicalismos e reduzir a margem para consenso político.
No plano continental, a ascensão de um governo com agenda tão distinta da “ordem progressista” latino-americana imprime uma ruptura significativa. A Argentina, historicamente atuante em fóruns regionais, pode adotar postura mais alinhada à direita liberal ou ao “mercado global” — isso abre espaço para choques diplomáticos, realinhamento de blocos comerciais e tensões com vizinhos que mantêm governos de outra orientação.
Opinião editorial
A vitória de Milei abre duas frentes simultâneas:
Uma oportunidade real de modernização econômica e de ruptura com ciclos de crise repetidos.
Um desafio de manter estabilidade política, institucional e diplomática em meio a um ambiente polarizado.
Se os próximos meses mostraram que as reformas avançam com consistência, a Argentina pode se tornar exemplo para uma nova “onda liberal” na região. Mas se surgir uma reação forte — interna ou externa — o país corre o risco de se dividir entre duas órbitas antagônicas, com impacto negativo para seu crescimento e para a coesão social.









